26 de maio de 2013

Quando a luz do meu olhar se apagar...


          Mel acordou sorrindo feito criança em piscina de bolinha, ela estava animada, era seu penúltimo ano no colegial e estava se iniciando a realização de seu maior sonho: prestar o vestibular e finalmente cursar a tão sonhada faculdade de medicina. Arrumou seus livros e foi para o banho, mais um dia se inciava. 
- Tchau, mãe. Beijos. 
Disse Mel descendo as escadas apressada, pois não podia se atrasarpara o teste de matemática.
- Você nem vai almoçar? Tá bom, filha. Beijos, toma cuidado e não se atrasa!
- Dona Sônia responde.
        Mel chega na escola sorrindo e brincando com os amigos, como sempre. Logo após, sobe para sua sala de aula para fazer o teste de matemática e assistir uma de suas aulas preferidas: filosofia.
Na aula de filosofia, o professor falou sobre vida após a morte -ela era certa de que quando seu coração parasse de bater, subiria para morar com Jesus.
Então ela parou para refletir, as aulas de filosofia tinham esse dom, Mel sempre saía da aula com interrogações na mente.
        E durante o engarrafamento na volta para casa, se fez uma pergunta: "E quando a luz do meu olhar se apagar e eu for morar com Jesus?". 

Imediatamente, ela começou a escrever -Mel amava escrever, sempre odiou melações e demonstrações excessivas de sentimentos, mas no fundo, era doce como açúcar... 
Minutos depois de Mel ter iniciado o seu texto, com a tentativa de fugir do tédio do transito que enfrentava diariamente. Faltando 2 pontos para ela descer do ônibus, um moço muito bonito subiu no ônibus em que ela estava. Os olhos dele eram azuis, mas neles havia um brilho ofuscado, meio que apagado. Mel olhou fixamente para ele durante 3 segundos, depois voltou a escrever. 
Ela estava muito concentrada em sua escrita, quando ouviu gritos. 
- Socorro. 
-Calma. 
- Nos ajudem! 
Pessoas gritavam desesperadas no ônibus, Mel se levantou assustada para ver o que estava acontecendo. 
O moço bonito que tinha o brilho do olhar apagado estava assaltando os passageiros. Mel senta novamente, faz uma oração e começa a chorar sem saber o que fazer. 

     Em uma fração de segundos, o motorista perde o controle do ônibus e cai de cima em uma ribanceira. Enquanto o ônibus caia, passou um filme na cabeça de Mel. A altura era enorme, as chances de ter sobreviventes do acidente eram pouquíssimas. Mel se encheu de alegria, pois talvez estivesse indo morar com Jesus, mas se entristeceu porque não teria chances de dar adeus para sua família e amigos. 
    O ônibus chega ao chão, mel falece com uma batida na cabeça. 
A noticia sobre o acidente chega aos noticiários rapidamente, a mãe de Mel se desespera, pois identificou a linha do ônibus com o que sua filha embarcava diariamente. 



Preocupada ela vai até o local do acidente, ao encontrar a mochila de Mel, Dona Sônia senta no chão e chora. Chora e grita, a dor era tamanha que não conseguia parar de gritar.
- Eu quero a minha filha!! Trás a minha filha! 
Gritava Dona Sônia, inconformada com o que havia acontecido. E em meio aos destroços, ela acha o papel que Mel escreveu enquanto ainda estava no ônibus, nele dizia;


"E quando a luz do meu olhar se apagar? E quando eu fechar os olhos pela ultima vez? 
Eu sempre me preocupei com isso, pois não suporto ver pessoas que amo chorando, ou chateadas por algum motivos. Parece pessimismo falar sobre morte, mas problema. Quando eu morrer, vou subir para morar com Jesus, e não quero ninguém chorando, pois eu vou estar feliz. O brilho do meu olhar vai se apagar aqui na terra, mas vai iluminar uma estrela no céu. 
Quando a luz do meu olhar se apagar, quero que vocês comam o meu doce e ouçam a minha música preferida com um sorriso no rosto, como eu costumava fazer, quando eu estava entre vocês. Não toque nas minhas coisas -nunca gostei que mexessem na minha bagunça. Cuide dos meus animais de estimação, como eu cuidava. Doe meus órgãos, quando a luz do meu olhar se apagar, eu não precisarei mais deles.
Busque na memória um motivo pra sorrir, e quando a luz do sol bater na janela enxugue as lágrimas e sorria. Não sei porque estou escrevendo esse texto, me deu vontade, talvez tenha sido o tédio do trânsito, ou não.
E quando sentir saudades, me encontre à noite. Olhe para o céu, vou estar lá esperando a chegada de vocês." 
 Dona Sônia se levanta após ler o texto de sua filha e vai preparar o funeral. Embora estivesse com um buraco no peito e sentindo uma dor inexplicável, ela se sente um tanto que conformada, pois Mel estava aonde queria estar: Ao lado de Jesus. 
A noite chegou, Sônia foi ao encontro de sua filha, como ela orientou no texto. As estrelas brilhavam, Sônia ainda muito abalada, chorou pela ausência de Mel. 
- Eu só queria te ver entrando por aquela porta, ou quem sabe repetir "toma cuidado, não se atrasa..."
Dona Sônia sussurra e entra.

Bárbara Castro


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